terça-feira, 29 de março de 2016

Por que Estou Deixando as Assembleias de Deus para unir-me à Igreja Metodista Unida (Parte 1)

Por que Estou Deixando as Assembleias de Deus para unir-me à Igreja Metodista Unida (Parte 1)


16 de fevereiro. Por Jeremiah Gibbs
Algumas decisões são bem mais difíceis de serem tomadas do que outras. Por muitos anos, a decisão de migrar das Assembleias de Deus para a Igreja Metodista Unida parecia ser uma das difíceis. Mas agora esta decisão se tornou extremamente fácil.
Em um primeiro momento, as Assembleias de Deus (AD) pareceriam ter uma série de aspectos positivos. São uma das duas principais denominações cristãs que continuam a crescer ano após ano nos Estados Unidos. Concedem um nível de autonomia bastante alto para seus pastores e igrejas. A espiritualidade é vibrante e estimula um relacionamento profundo com Deus.
A Igreja Metodista Unida (IMU) parece colecionar problemas quanto as AD coleciona sucessos. A membresia da IMU está em queda livre desde sua formação em 1968. Em cada reunião de seu órgão administrativo há conflitos relacionados à homossexualidade e nos anos de interregno há uma série de manobras e ameaças. E submeter-se a esse sistema significa perder um grande controle sobre sua própria carreira ministerial.
A verdade é que a razão mais importante para que eu deixe a AD é completamente pessoal. Minha esposa é uma pastora ordenada da Igreja Metodista Unida. Os metodistas unidos são nomeados para suas igrejas pelo bispo e por sua equipe. Na AD não há tal sistema de nomeação. Portanto, em certo momento minha esposa poderia ser nomeada para longe de meu trabalho e eu teria muitas dificuldades para encontrar uma nomeação pastoral importante próximo a ela. Ao fazer parte da IMU, a partir deste momento o bispo e seu gabinete serão responsáveis por garantir que eu seja nomeado com uma boa remuneração no ministério, caso queiram nomear a Jen para um lugar distante. Sou grato por estar sob um sistema que seja responsável por nós dois. Também é importante o fato de ter-me graduado (duas vezes) em um seminário metodista unido, ensine e pastoreie em uma universidade ligada à Igreja Metodista Unida e sirva regularmente em funções de liderança denominacional no âmbito da IMU. O fato é que me tornei mais próximo da IMU do que da AD nos últimos dez anos.
Além desses motivos pessoais, que são os mais importantes para mim, há também algumas razões teológicas e ministeriais. Essas provavelmente serão muito mais interessantes para meus leitores. Em minha próxima postagem discutirei algumas das razões teológicas pelas quais estou trocando a AD pela IMU. Mas aqui estão algumas das razões ministeriais para a minha mudança:
  1. A IMU oferece um espaço para que os ministros se esforcem com a teologia. A AD possui alguns parâmetros muito estreitos sobre o pensar a teologia e romper tais parâmetros pode ter alguns custos muito altos para os ministros. Caso a igreja queira articular uma visão do Reino de Deus em uma cultura pós-cristã, os pastores e teólogos precisam ter liberdade para lidarem com as doutrinas de nossa fé sem medo. A IMU é um ambiente cultural no qual se encoraja e se adota claramente a investigação teológica. Por outro lado, a IMU possui muitos ministros que são mais progressistas que eu. Mas algumas vezes é melhor estar lado a lado de alguém de quem se discorda muito mas que irá respeitá-lo, do que estar ao lado de alguém de quem se discorda pouco mas que pouco o respeita. Nunca me imagino em uma situação na qual eu concorde plenamente com qualquer grupo grande de pessoas em qualquer assunto. Mas como será quando discordarmos?
  2. A IMU precisa de pessoas com dons em discipulado e liderança organizacional. Não conheço tão profundamente a IMU para entender todos os motivos, mas muitas Igrejas Metodistas Unidas tem uma necessidade muito grande de discipulado básico em suas congregações. Tenho certeza de que posso contribuir bastante pois discipulado e liderança organizacional são áreas nas quais eu me sinto plenamente capacitado. Caso você seja uma pessoa que também possua esses dons, a IMU poderia usá-lo também!
  3. A IMU capacita melhor as pessoas para exercerem seus ministérios. A AD tem muitas pessoas credenciadas, algumas das quais inadequadamente treinadas mas que ainda são nomeadas, de forma que há ministros muito capazes que são frequentemente ignorados. Ouvi histórias demais sobre pastores competentes que permaneceram desempregados ou que foram empregados com salários tão baixos que não puderam permanecer no ministério e sustentar suas famílias. A IMU garante um salário mínimo de US$ 28.000,00 por ano (varia pouco de estado para estado) além de garantir a moradia de seus ministros. Eles também "garantem" a nomeação de um pastor a partir do momento em que ele é ordenado. Muitos pastores recebem salários consideravelmente maiores. Há uma troca: os pastores da IMU não escolhem onde trabalhar. Mas, pessoalmente, considero muito mais importante ser capaz de trabalhar em algum lugar do que ser o responsável por todas as decisões com respeito a onde trabalharei.
  4. A IMU apoia totalmente as mulheres no ministério. Este é um compromisso pessoal ao qual sou profundamente empenhado. A AD apoia oficialmente o ministério feminino, o que é melhor que muitas denominações evangélicas. (Um exemplo está no meu texto de "Como Tornei-me um Apoiador do Ministério Feminino.") Mas a política de liberdade da igreja local da AD combinado com o fato de que muitas não desejam ter uma mulher pastora, por razões culturais, significa que bem poucas mulheres chegam a ter a oportunidade de servirem como lideranças pastorais. Não é este o caso na IMU, onde as mulheres são preparadas intencionalmente para assumirem grandes responsabilidades na liderança pastoral. A IMU tem lutado para nomear mulheres nas igrejas grandes, por exemplo, mas muitas conferências estão trabalhando fortemente para corrigir esta desigualdade. A igreja precisa tanto das vozes dos homens quanto das mulheres na liderança pastoral, caso deseje corresponder ao grande chamado que Deus colocou sobre ela. O trabalho é importante demais para que se ignore os dons de liderança de "Metade da Igreja."
  5. A IMU apoia os ministros jovens. Isto tem tanto a ver com uma falta quanto com um um dom. A IMU tem falhado em cultivar um pastorado jovem na mesma proporção com a qual tem perdido seu pastorado mais idoso. Parece que a IMU tem diminuído mais rapidamente entre seu clero que em sua membresia total. Com tal necessidade de pastores jovens, esses líderes estão sendo intencionalmente cultivados com oportunidades de desenvolvimento de liderança e oportunidades ministeriais que irão prepará-los bem para o futuro ministério. Quero isto para mim. Quero isto também para os alunos que estou preparando para o ministério na Universidade de Indianapolis.
Sei que muitas dessas respostas podem soar bastante "mundanas" para alguns de meus amigos na AD. Não se preocupem. Também irei dar alguns dos motivos teológicos em minha próxima postagem. Mas recomendaria que não minimizassem esses motivos mais práticos. Caso você deseja se comprometer com o ministério, você precisa saber como isto afeta outras áreas de sua vida.
Sou grato pelo fato da Igreja Metodista Unida ter aceito minha intenção de transferir minhas ordens em uma reunião da Board of Ordained Ministry (Junta de Ministério Ordenado) ocorrida nesta semana. Em junho deste ano prosseguirei com esta intenção.
Tradução: Fabio Martelozzo ( fabiomartelozzo@gmail.com )
Parte 2: http://deusnoplural.blogspot.com.br/2016/05/por-que-estou-deixando-as-assembleias.html



quinta-feira, 3 de março de 2016

Cristãos e Muçulmanos Adoram ao Mesmo Deus? Implicações Missiológicas Ao Respondermos uma Pergunta Divisiva.

Cristãos e Muçulmanos Adoram ao Mesmo Deus?
Implicações Missiológicas Ao Respondermos uma Pergunta Divisiva.















David Greenlee

Quando Bob Priest interrompeu meu feriado de ano novo para me pedir para contribuir com sua discussão, minha memória levou-me à piada, contada pela primeira vez por Emo Phillips há 30 anosi, sobre dois caras que se encontraram em uma ponte. Não eram apenas cristãos, regozijaram-se, mas também compartilhavam suas origens na Convenção Batista Conservadora do Norte da Região dos Grandes Lagos. Porém, ao descobrirem que um deles era da Convenção Batista Conservadora do Norte da Região dos Grandes Lagos do Concílio de 1879 e o outro era da Convenção Batista Conservadora do Norte da Região dos Grandes Lagos do Concílio de 1912, o primeiro bradou "Morra, herege!" e empurrou o outro da ponte.

O humor se assemelha perigosamente à experiência. Nos últimos anos meu coração pesou com frequência enquanto via amigos "empurrados da ponte" por alguém que, por conta própria, considerava que "Concílio de 1912" seria a única resposta correta. Como um filho de missionário e filho de um professor de seminário, sei que empurrar os hereges da ponte não é nenhuma novidade no comportamento "cristão".

Cuidado: fazer missiologia pode ser perigoso. Não conheço a Larycia Hawkins, e conheço Wheaton de maneira muito superficial; seria presunçoso de minha parte tentar explicar ou apoiar qualquer um dos lados. Todavia, a primeira implicação missiológica que extraio é tenha cuidado; pode ser perigoso responder uma pergunta divisiva. E, o que quer que aconteça com os protagonistas, a divulgação via internet da situação ocorrida em Wheaton não beneficia nenhuma minoria cristã nas sociedades muçulmanas.

Questões mal formuladas e fontes de informação mal selecionadas levam a uma missiologia ruim "A Verdade" ouvida por um juri é filtrada através de questões perguntadas às testemunhas de maneira cuidadosamente construída. Pesquisas de satisfação do consumidor induzem-me a certas respostas (e se autorrespondem caso eu não esteja “completamente satisfeito" em cada ponto).

Viés de confirmação é a tendência que temos de procurar e interpretar as informações de maneira a confirmar nossas preconcepções. Ao invés de interagir com opiniões sólidas que sejam contrárias às nossas, criamos espantalhos; poucos de nós fortalecem os argumentos ao buscar com afinco provas de que podemos estar errados.

Um centro asiático respondendo a comentários feitos por membros de nosso grupo doméstico na Suíça, anos atrás, disse, "Claro que não troquei de deus quando passei a crer em Jesus Cristo. Por que alguém poderia pensar nisso?" A maioria - mas não todos - dos muçulmanos que eu conheço diriam mais ou menos o mesmo.

Um perigo que eu correria, portanto, seria o de colher provas nesta direção porque me sinto mais confortável ouvindo meus amigos e lendo artigos que compartilham essa opinião ao invés de ouvir, de mente aberta, àqueles que defendem outras posições. Mas, a reflexão missiológica se torna mal informada quando formulamos nossas perguntas de maneira a iluminar apenas parcialmente o objeto de estudo.

Língua e cultura afetam minhas perguntas e, portanto, minhas respostas; consigo ver por conta própria apenas parte do quadro. Um tradutor simultâneo de legendas para a televisão ficou confuso, disseram-me. O falante de língua inglesa afirmara, "Não cremos em Alá; cremos em Deus." Ao passar para o árabe, ela teria de escrever (traduzido de volta) "Não cremos em Deus; cremos em Deus." Meu exemplo um tanto quanto simplista serve para nos lembrar que nossas perguntas e nossa forma de pensar são moldados pela língua.

Richard Jameson descreve o impacto da cultura em questões sobre Deus, fé, vida e o mundo. Os árabes que ele conhece tendem a se concentrar em limites bem estabelecidos e nas diferenças; os indonésios concentram-se na harmonia. Muçulmanos das sociedades árabes convertidos a Jesus costumam perguntar algo como "Alá, como os muçulmanos conhecem, é o mesmo Deus que YHWH, conhecido pelos judeus e cristãos a partir de suas escrituras?" enquanto os crentes indonésios que ele menciona perguntam algo como "Há verdade o bastante em Alá, como os muçulmanos conhecem, para usar tal verdade como ponto de partida para levar os muçulmanos a um conhecimento completo do Deus da Bíblia?"ii

Amba as abordagens são válidas. Ambas são incompletas. Quer falemos a partir de uma estrutura teológica profundamente arraigada ou de uma visão de mundo culturalmente enraizada, preciso que outros me ajudem, não apenas a enxergar o quadro completo, mas até para que eu saiba para onde olhar.

Estou construindo pontes ou muros? É certo sempre responder a qualquer pergunta? Ter critério é (ainda) uma virtude, tanto mais em nossa era da internet. Questões válidas, mas perguntadas ou respondidas da forma errada e pelos motivos errados, podem ser usadas intencionalmente como critério para separar e dividir, cercas de arame farpado para nos manter sob controle e manter longe de nós aqueles que tememos. Assim como Tiago, podemos expressá-las de maneira a estarmos comprometidos com a verdade, como ele era, de forma a não "perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus" (At 15.19)? Ainda assim, pergunto-me, podemos chegar a responder a pergunta "cristãos e muçulmanos adoram ao mesmo Deus?" E quais muçulmanos? Quais cristãos? "Adoração" no sentido de ritual e tradição ou no sentido de viver como sacrifícios vivos? "O mesmo" em termos do fato ontológico de um Deus Todo Poderoso, Criador de todas as coisas ou "mesmo" em uma coerência suficiente nos detalhes da crença?

Se eu optar pela segunda abordagem sobre a semelhança, posso acabar pensando em qual seria o limite de erros que eu poderia ter na minha forma de crer para que eu ainda estivesse adorando a Deus, e não a um falso deus? Seria o mesmo ser tanto o pai amoroso que uma amiga diz saber que Deus é hoje, quanto o ogro furioso que ela imaginava que ele fosse quando era adolescente? Nós, evangelicais, adoramos ao mesmo Deus que os protestantes liberais, o "Jeová" das Testemunhas de Jeová ou o Jesus dos Pentecostais Unicistas?

Conhecer o que cremos é importante; mas Deus é definido por aquilo que ele é, não por aquilo no que creio sobre ele. Ao invés de nos concentrarmos na adoração ou na crença (por mais importante que sejam), uma pergunta mais frutífera para os missionários, se não para a missiologia, seria "Conhecemos o mesmo Deus?"

A paz importa? Diferentemente da situação vivida pela maioria dos cristãos na maioria dos lugares nos quais morei, até pouco tempo atrás nos EUA as questões referentes ao pluralismo eram muito mais um argumento teológico do que algo a ser aplicado no dia a dia. Questões há muito decididas em outros lugares tem, ultimamente, nos deixado perturbados.

Saber no que nós cremos, e no que creem os outros, é importante; fazer declarações unilaterais sobre o que os outros creem produzem poucos benefícios na construção da paz entre as comunidades. Ao considerarmos o medo crescente na sociedade americana, ao invés de falarmos sobre eles, poderíamos conversar com os muçulmanos e com outros com mais frequência, em uma espécie de conversa ao redor da mesa da cozinha (para adaptar um termo usado por Valdir Steuernagel em Iguaçu há quinze anos)? Se, pelo menos uma vez, deixando de lado velhos pontos de debate, encontrássemos uma forma de explorar com sensibilidade não apenas nossa crença em Deus, mas também aquilo que desejamos para nossos filhos, poderíamos contribuir para a construção da paz em um mundo cada vez mas amedrontado e fraturado.


David Greenlee (Ph. D. TEDS 1996) trabalha em Operation Mobilization (Mobilização Operação) desde 1977, e desde então passa mais tempo morando fora dos EUA. Editor de From the Straight Path to the Narrow Way (Do Caminho Reto ao Caminho Estreito - InterVarsity) e Longing for Community (Ansiando por Comunhão - William Carey) e autor de diversos artigos relacionados a muçulmanos achegando-se à fé em Jesus Cristo. As opiniões expressas são de responsabilidade do autor e não necessariamente expressam a opinião de OM.
i Emo Philips, “The Best Good Joke Ever—And It’s Mine!” (A Melhor Piada de Todos os Tempos - E É a Minha!) The Guardian(online), 28 de setembro de 2005. http://www.theguardian.com/stage/2005/sep/29/comedy.religion

ii Richard Jameson, “Respecting Context: A Comparison of Indonesia and the Middle East,” (Respeitando o Contexto: Uma Comparação entre a Indonésia e o Oriente Médio," IJFM29,4. http://www.ijfm.org/PDFs_IJFM/29_4_PDFs/IJFM_29_4-Jameson.pdf



Traduzido por Fabio Martelozzo Mendes ( fabiomartelozzo@gmail.com )