Reflexão da Deã Jan Love Sobre o Atentado de Orlando
"Permaneçam Firmes." "O Amor é
Mais Poderoso." "O Amor Sempre Vence." Essas são
algumas das frases em cartazes escritos à mão deixados no memorial
improvisado localizado no parque entre a Prefeitura e o Centro de
Artes Performáticas no centro de Orlando, a menos de duas milhas da
PULSE, a popular boate gay na qual um atirador assassinou 49 pessoas
e feriu outras 53 na madrugada de domingo. Visitei o memorial
acompanhada por outros ex-alunos de Candler quando estive em Orlando
nesta semana, para uma visita previamente agendada à Conferência
Anual da Igreja Metodista Unida na Flórida, que está se reunindo
nesta semana. Quando agendei a viagem, há algumas semanas, jamais
poderia prever a experiência sagrada na qual ela se transformaria.
Desembarquei em Orlando ansiosa por descobrir
como as pessoas de fé estavam reagindo ao horror do massacre
ocorrido em seu meio. Menos de quatro dias após as mortes, ficou
evidente que pastores e pastoras, bem como leigos e leigas -
incluindo muitos ex-alunos de Candler - continuam a se mobilizar
buscando oferecer sua presença, orações, consolação,
instalações, água, comida, abraços e o que quer que a
comunidade, atordoada e aflita, necessita enquanto pranteiam e
tentam processar esse evento horrível. O cansaço compreensível
daqueles que ministram não se comparava à sua determinação em
encarnar o amor, a esperança, a misericórdia e a paz em uma
comunidade ainda sofrendo em choque e aflição.
Cientes do poder de cura proporcionado pela
adoração comunitária, os pastores da Primeira Igreja Metodista
Unida organizaram um culto de adoração inter-religioso como uma
forma de todos compartilharem sua aflição, encontrarem comunhão e
testemunharem a esperança e a solidariedade frente à tragédia. As
pessoas compareceram em massa ao culto em uma pungente demonstração
do anseio generalizado por uma base comum em uma era de extrema
polarização e violência em massa por demais frequente. O
diversificado grupo de líderes que organizou o culto decidiu, a
despeito de certo desconforto, citar o nome e orar por cada um dos
50 que morreram, daqueles que foram assassinados assim como daquele
que os assassinou, bem como por aqueles que se feriram e por suas
famílias e entes queridos.
Como diversas outras igrejas, a Igreja Metodista
Unida St. Luke realizou um culto de oração na noite do atentado.
St. Luke tem acolhido há tempos todos aqueles e aquelas que desejam
seguir a Jesus em seus trabalhos, adoração, testemunho e liderança
da igreja, incluindo os membros da comunidade LGBTT. Muitos dos
membros de St. Luke são amigos e familiares das vítimas da boate
PULSE, fazendo com que a tragédia se torne ainda mais pessoal
Portanto, quando a St. Luke descobriu que manifestantes anti-gay
planejavam vir a Orlando para protestar nos funerais e cultos
memoriais das vítimas da PULSE, um líder leigo recorreu à
comunidade de motociclistas para solicitar seu auxílio para
construir um escudo formado por pessoas e suas máquinas - uma
barreira de motos - para proteger os enlutados das ofensas dos
manifestantes. Ela recebeu apoio apaixonado dos clubes de
motociclistas da área, dispostos a ajudá-los desta forma.
Tais atos de compaixão demonstram o amor ao
próximo que Jesus pregou e inspira a todos nós a nos mantermos
firmes - juntos. Pessoas das diferentes religiões, clérigos e
leigos, heterossexuais e LGBTT, crentes e aqueles que não conseguem
crer, unidos para criar um espaço seguro onde todos podem ministrar
uns aos outros, construindo uma comunidade mais forte na qual o
valor sagrado de cada pessoa é reconhecido e acolhido.
Despertei nesta manhã já de volta em Atlanta,
um tanto distante do imediatismo do choque e da aflição, mas ainda
muito tocada por ele. Lembrei-me outra vez que uma das mais fortes e
poderosas dimensões do mandato de Cristo para amar a Deus e ao
próximo é o de canalizar a raiva justa que inevitável e
compreensivamente surge a partir de incidentes como o massacre de
Orlando, o massacre de Charleston, e muitos, muitos outros. Caso
queiramos superar a homofobia, o racismo, a violência em nome da
religião, o acesso fácil a armamento militar de assalto, a falta
de acesso a cuidados mentais apropriados e outras forças mais que
destroem pessoas e comunidades, nosso amor por Deus e por todos nós
deve ser vivido de maneira a buscarmos incansavelmente a mudança
social duradoura, um investimento no tipo de compaixão que nos move
em direção da justiça.
Meu tempo em Orlando foi curto. Oramos, cantamos
e choramos juntos, por um curto período. E a oração mais profunda
foi a de que nós, como cristãos e cristãs, permanecêssemos
juntos e juntas testemunhando o poder do amor para superar o mal e
permanecermos firmes no trabalho pela justiça por todo o povo de
Deus. Fazemos isso bem em Candler, e sou grata por caminhar ao lado
de vocês enquanto trabalhamos com Deus e uns com os outros pela
transformação do mundo.
É Deã da Candler School of Theology na Emory
University, um dos seminários oficiais da United Methodist Church-Igreja Metodista Unida
Tradução: Fabio Martelozzo Mendes ( fabiomartelozzo@gmail.com )
Publicado originialmente em:http://candler.emory.edu/news/releases/2016/06/dean-love-reflects-on-orlando.html