quarta-feira, 22 de junho de 2016

Reflexão da Deã Jan Love Sobre o Atentado de Orlando

Reflexão da Deã Jan Love Sobre o Atentado de Orlando

"Permaneçam Firmes." "O Amor é Mais Poderoso." "O Amor Sempre Vence." Essas são algumas das frases em cartazes escritos à mão deixados no memorial improvisado localizado no parque entre a Prefeitura e o Centro de Artes Performáticas no centro de Orlando, a menos de duas milhas da PULSE, a popular boate gay na qual um atirador assassinou 49 pessoas e feriu outras 53 na madrugada de domingo. Visitei o memorial acompanhada por outros ex-alunos de Candler quando estive em Orlando nesta semana, para uma visita previamente agendada à Conferência Anual da Igreja Metodista Unida na Flórida, que está se reunindo nesta semana. Quando agendei a viagem, há algumas semanas, jamais poderia prever a experiência sagrada na qual ela se transformaria.
Desembarquei em Orlando ansiosa por descobrir como as pessoas de fé estavam reagindo ao horror do massacre ocorrido em seu meio. Menos de quatro dias após as mortes, ficou evidente que pastores e pastoras, bem como leigos e leigas - incluindo muitos ex-alunos de Candler - continuam a se mobilizar buscando oferecer sua presença, orações, consolação, instalações, água, comida, abraços e o que quer que a comunidade, atordoada e aflita, necessita enquanto pranteiam e tentam processar esse evento horrível. O cansaço compreensível daqueles que ministram não se comparava à sua determinação em encarnar o amor, a esperança, a misericórdia e a paz em uma comunidade ainda sofrendo em choque e aflição.

Cientes do poder de cura proporcionado pela adoração comunitária, os pastores da Primeira Igreja Metodista Unida organizaram um culto de adoração inter-religioso como uma forma de todos compartilharem sua aflição, encontrarem comunhão e testemunharem a esperança e a solidariedade frente à tragédia. As pessoas compareceram em massa ao culto em uma pungente demonstração do anseio generalizado por uma base comum em uma era de extrema polarização e violência em massa por demais frequente. O diversificado grupo de líderes que organizou o culto decidiu, a despeito de certo desconforto, citar o nome e orar por cada um dos 50 que morreram, daqueles que foram assassinados assim como daquele que os assassinou, bem como por aqueles que se feriram e por suas famílias e entes queridos.

Como diversas outras igrejas, a Igreja Metodista Unida St. Luke realizou um culto de oração na noite do atentado. St. Luke tem acolhido há tempos todos aqueles e aquelas que desejam seguir a Jesus em seus trabalhos, adoração, testemunho e liderança da igreja, incluindo os membros da comunidade LGBTT. Muitos dos membros de St. Luke são amigos e familiares das vítimas da boate PULSE, fazendo com que a tragédia se torne ainda mais pessoal Portanto, quando a St. Luke descobriu que manifestantes anti-gay planejavam vir a Orlando para protestar nos funerais e cultos memoriais das vítimas da PULSE, um líder leigo recorreu à comunidade de motociclistas para solicitar seu auxílio para construir um escudo formado por pessoas e suas máquinas - uma barreira de motos - para proteger os enlutados das ofensas dos manifestantes. Ela recebeu apoio apaixonado dos clubes de motociclistas da área, dispostos a ajudá-los desta forma.

Tais atos de compaixão demonstram o amor ao próximo que Jesus pregou e inspira a todos nós a nos mantermos firmes - juntos. Pessoas das diferentes religiões, clérigos e leigos, heterossexuais e LGBTT, crentes e aqueles que não conseguem crer, unidos para criar um espaço seguro onde todos podem ministrar uns aos outros, construindo uma comunidade mais forte na qual o valor sagrado de cada pessoa é reconhecido e acolhido.

Despertei nesta manhã já de volta em Atlanta, um tanto distante do imediatismo do choque e da aflição, mas ainda muito tocada por ele. Lembrei-me outra vez que uma das mais fortes e poderosas dimensões do mandato de Cristo para amar a Deus e ao próximo é o de canalizar a raiva justa que inevitável e compreensivamente surge a partir de incidentes como o massacre de Orlando, o massacre de Charleston, e muitos, muitos outros. Caso queiramos superar a homofobia, o racismo, a violência em nome da religião, o acesso fácil a armamento militar de assalto, a falta de acesso a cuidados mentais apropriados e outras forças mais que destroem pessoas e comunidades, nosso amor por Deus e por todos nós deve ser vivido de maneira a buscarmos incansavelmente a mudança social duradoura, um investimento no tipo de compaixão que nos move em direção da justiça.

Meu tempo em Orlando foi curto. Oramos, cantamos e choramos juntos, por um curto período. E a oração mais profunda foi a de que nós, como cristãos e cristãs, permanecêssemos juntos e juntas testemunhando o poder do amor para superar o mal e permanecermos firmes no trabalho pela justiça por todo o povo de Deus. Fazemos isso bem em Candler, e sou grata por caminhar ao lado de vocês enquanto trabalhamos com Deus e uns com os outros pela transformação do mundo.


Jan Love
É Deã da Candler School of Theology na Emory University, um dos seminários oficiais da United Methodist Church-Igreja Metodista Unida 

Tradução: Fabio Martelozzo Mendes ( fabiomartelozzo@gmail.com )
 Publicado originialmente em:http://candler.emory.edu/news/releases/2016/06/dean-love-reflects-on-orlando.html