quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Os Evangélicos e a Grande Esperança Trump

Os Evangélicos e a Grande Esperança Trump



ROBERT P. JONES
11 de julho de 2016

Como foi que os brancos protestantes evangélicos - autointitulados "eleitores de valores" - se tornaram um bloco de apoio incondicional a Donald J. Trump?

Um encontro recente, cuidadosamente coreografado, entre Trump e líderes evangélicos nos permitiu vislumbrar como muitos estão tentando decifrar essa equação. James C. Dobson, o fundador e antigo diretor de Focus on the Family - uma figura ainda influente nos círculos cristãos conservadores -, afirmou ter recebido informações de segunda mão dizendo que Trump passara "a aceitar um relacionamento com Cristo" e que Trump deveria "ter algum crédito" sendo ele ainda "um bebê em Cristo".

O antigo pré-candidato a presidente Mike Huckabee, um pastor batista cuja filha, Sarah, é importante conselheira de Trump, carimbou "valores familiares" no candidato ao testificar a proximidade de Trump junto a seus filhos adultos. Huckabee descreveu seu relacionamento como "um dos mais admiráveis relacionamentos de pai e filhos que já vi".

Mas ainda que Dobson e Huckabee façam o maior esforço para ajudar os evangélicos a justificarem o apoio automático ao candidato republicano, o rev. Robert Jeffress, o influente pastor titular da Primeira Igreja Batista em Dallas e membro proeminente do comitê consultivo evangélico de Trump, deu uma razão muito mais utilitarista para o apoio a Trump para presidente. Ao invés de tentar defender as credenciais cristãs de Trump, Jeffress disse sem rodeios que face às conhecidas ameaças que os evangélicos enfrentam, "Eu quero o filho-da-mãe mais malvado e durão que eu puder achar para o papel, e acho que é isso o que muitos evangélicos também querem".

A vulnerabilidade extrema expressa por Jeffress é fundamental para entender o apoio dos evangélicos brancos a Trump e o esforço imenso que líderes evangélicos têm feito para poder fazer campanha por ele. Líderes como Jeffress identificam as ameaças à sua segurança no mundo exterior que os cerca.
Mas a raiva, ansiedade e insegurança sentidas por muitos evangélicos brancos contemporâneos são melhores entendidas como uma resposta a uma crise de identidade interna precipitada pelo fim da “América cristã branca”, o mundo cultural e institucional construído principalmente por protestantes brancos que dominaram a cultura americana até a década passada.

Hoje, os evangélicos brancos não apenas veem o declínio de seus próprios quadros como também enfrentam realidades demográficas e culturais mais amplas e genuinamente novas. Quando Barack Obama se elegeu presidente em 2008, os cristãos brancos (católicos e protestantes) constituíam a maioria (54%) do país. Hoje, este número baixou para 45 porcento. Durante o mesmo período o apoio ao casamento gay - um assunto-chave para os evangélicos - passou de apenas quatro em cada dez para uma ampla maioria, e a Suprema Corte abriu caminho para que casais homoafetivos se casem e todos os cinquenta estados. A própria Suprema Corte simbolizou tais mudanças ao perder seu último membro protestante, John Paul Stevens, em 2010.

Uma recente pesquisa de Public Religion Research Institute - Brookins mostra o porquê os protestantes evangélicos brancos estão se sentindo alarmados, na esteira das mudanças demográficas e culturais. Quase dois terços se incomodam quando encontram imigrantes que praticamente não falam inglês. Mais de dois terços creem que a discriminação contra brancos tornou-se um problema tão grande quanto a discriminação contra outros grupos. Quanto à discriminação contra cristãos, o número chega a oito em cada dez. E talvez o dado mais revelador de todos seja o de que sete em cada dez protestantes evangélicos dizem que o país mudou para pior desde a década de 1950.

Em grande medida, Ted Cruz, o filho de um pastor evangélico e ele mesmo um batista do sul, deveria ser o candidato a presidente dos evangélicos em 2016. Mas Trump conquistou os evangélicos ao abordar explicitamente seu senso de perda mais profundo. Cruz garantiu aos evangélicos que os protegeria das novas realidades, enquanto Trump prometeu devolver seu papel de protagonistas do país. Cruz ofereceu-se para negociar uma estratégia de retirada digna, enquanto Trump jurou fazer o tempo voltar.

A promessa de Trump de “fazer a América grande novamente” significa algo específico para os protestantes evangélicos brancos. Trump entrou em cena no momento em que a cortina baixava marcando o fim da era da dominância branca protestante.

A ascensão de Trump transformou as eleições de 2016 em um referendo sobre a morte da América cristã branca, sendo ele o candidato que atraiu mais aqueles que mais lamentam essa perda. Trump compreendeu isso instintivamente desde o começo de sua campanha. Tome como exemplo seu discurso em uma faculdade evangélica antes dos caucuses de Iowa em Janeiro: "Digo-lhes uma coisa: assim que eu for eleito presidente, nós estaremos dizendo 'feliz natal' de novo". Ele acrescentou que o cristianismo ressurgiria "porque se eu estiver lá, vocês terão bastante poder - vocês não precisarão de mais ninguém".

A forma como os evangélicos brancos responderem será importante para o futuro do experimento democrático americano. Caso seus profundos sentimentos de nostalgia e vulnerabilidade levarem-nos a abraçar Trump como um meio direto de voltar ao poder, podemos esperar, se ele vencer, mais processos judiciais e agitação civil, seguidos de mais igrejas politizadas e uma crescente polarização política ao longo das linhas culturais e raciais.

Por outro lado, caso os evangélicos de alguma forma invoquem uma resposta que esteja enraizada em uma aceitação real de seu lugar não-central na nova América, eles podem descobrir que têm um papel crítico a desempenhar na revitalização de nossa vida cívica.

Robert P.Jones, fundador e CEO de Public Religon Research Institute, é autor de “The End of White Christian America”.

Tradução: Fabio Martelozzo Mendes ( fabiomartelozzo@gmail.com )


Fonte: http://www.nytimes.com/2016/07/11/opinion/campaign-stops/the-evangelicals-and-the-great-trump-hope.html?