Muçulmanos
e Cristãos Adoram ao Mesmo Deus?
Miriam
Adeney*
E
que outro Deus existe? Em todo o universo, há apenas um Deus. Mas o
entendimento humano a respeito de Deus varia. Embora Deus seja o
mesmo em toda parte, e não sofra mudança por causa do que pensamos
sobre ele, por outro lado, as formas com as quais as pessoas
descrevem e compreendem Deus difere grandemente.
Nenhuma
de nossas compreensões é adequada. Nenhum de nós compreende a Deus
de maneira perfeita ou completa. Ainda assim, por mais incompletas
que nossas expressões possam ser, uma verdadeira percepção de Deus
deve incluir o criador do cosmo escolhendo tomar forma humana, entrar
em nosso sofrimento e vulnerabilidade até a morte, e explodir o
outro lado para gerar (ou demonstrar) novo poder para a vida, o poder
da ressurreição. O arco desta história demonstra uma dimensão
essencial da natureza divina. Demonstra o centro de quem Deus é.
Os
muçulmanos compreendem Deus desta forma? Tanto muçulmanos quanto
cristãos afirmam que Deus é o criador e sustentador do universo e o
culminador da história. Deus é onipotente, Deus é santo e Deus é
misericordioso. Deus, tendo nos criado, não abandona a raça humana.
Ao contrário, continua a cuidar de nós nos mandando profetas e
escrituras. Todas as três fés Abraâmicas afirmam que Deus seja um.
Há apenas um Deus, não uma pluralidade de deidades.
Contudo,
os muçulmanos não creem que Deus tenha tomado forma humana na
pessoa de Jesus. Embora vejam Jesus como um grande profeta de Deus e
dediquem a ele alto respeito, os muçulmanos não adoram a Jesus como
Deus. Na verdade, eles condenam tal adoração. Adorar a Jesus seria
a expressão do maior dos pecados, o de tratar algo humano como Deus.
Nem crê a maioria do muçulmanos que Jesus morreu na cruz. Embora
homens cruéis intentassem matar Jesus, Deus não permitiu que seu
santo profeta morresse a morte vergonhosa de um criminoso. Deus
arrebatou a Jesus e um anjo ou a aparição de outra pessoa,
possivelmente Judas, tomou o lugar de Jesus na cruz. Certamente,
então, Jesus não ressuscitou dos mortos.
Muçulmanos
e cristãos mantém o mesmo entendimento sobre Deus? Em parte, mas
apenas em parte. Juntos, celebramos as misericórdias de Deus.
Diferentemente do budismo e confucianismo, por exemplo, as fés
Abraâmicas afirmam a misericórdia de Deus expressa através dos
dons da natureza, comunidade humana e sabedoria escriturística, bem
como orientação ética e geral. Ainda que tal misericórdia seja
apenas uma pálida sombra da tremenda misericórdia que impulsionou
Jesus à Terra e rumo à cruz. A esta misericórdia radical chamamos
graça. Se a encarnação e morte de Jesus forem verdadeiramente a
essencial expressão da nuteza de Deus, então os entendimentos de
muçulmanos e cristãos são realmente muito diferentes.
E
sobre a terminologia, especificamente sobre o uso da palavra Alá
para referir-se a Deus e pai de Jesus? Historicamente, e até os dias
de hoje, a palavra Alá tem sido usada em Bíblias em todo o mundo
muçulmano, desde as Bíblias árabes até as Bíblias indonésias.
Nestas, o Gênesis começa, "No princípio, Alá criou os céus
e a terra." Neste exato momento, cristãos malaios - católicos
e todos os tipos de protestantes - estão lutando pelo direito ao uso
da palavra Alá. O governo exige que eles usem a palavra Tuhan, que
significa "Senhor" ou "Mestre". Mas Tuhan não
tem a conotação de criador do cosmo. É pequena demais.
Então,
muçulmanos e cristãos adoram ao mesmo Deus? Esta está longe de ser
a pergunta correta. Seria mais apropriado perguntar onde podemos
construir pontes com os muçulmanos através de compreensões comuns
(o que presumo tenha sido a tentativa da docente de Wheaton , de
boa fé , a despeito da infelicidade de suas palavras) - e onde
podemos articular claramente as diferenças, a saber, o que a
encarnação, morte e ressurreição de Jesus nos revelam sobre a
natureza de Deus.
*Miram
Adeney é Professora Associada de Estudos Cristãos Mundiais na
Seattle Pacific University e autora de Kingdom without Borders: The
Untold Story of Global Christianity (Reino sem fronteiras: a história
não contada do cristianismo global).
Tradução:
Fabio Martelozzo (fabiomartelozzo@gmail.com)
FONTE:
Publicado
originalmente em
https://www.emsweb.org/images/occasional-bulletin/special-editions/OB_SpecialEdition_2016.pdf
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