quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Muçulmanos e Cristãos Adoram ao Mesmo Deus?

Muçulmanos e Cristãos Adoram ao Mesmo Deus?


Miriam Adeney*

E que outro Deus existe? Em todo o universo, há apenas um Deus. Mas o entendimento humano a respeito de Deus varia. Embora Deus seja o mesmo em toda parte, e não sofra mudança por causa do que pensamos sobre ele, por outro lado, as formas com as quais as pessoas descrevem e compreendem Deus difere grandemente.

Nenhuma de nossas compreensões é adequada. Nenhum de nós compreende a Deus de maneira perfeita ou completa. Ainda assim, por mais incompletas que nossas expressões possam ser, uma verdadeira percepção de Deus deve incluir o criador do cosmo escolhendo tomar forma humana, entrar em nosso sofrimento e vulnerabilidade até a morte, e explodir o outro lado para gerar (ou demonstrar) novo poder para a vida, o poder da ressurreição. O arco desta história demonstra uma dimensão essencial da natureza divina. Demonstra o centro de quem Deus é.

Os muçulmanos compreendem Deus desta forma? Tanto muçulmanos quanto cristãos afirmam que Deus é o criador e sustentador do universo e o culminador da história. Deus é onipotente, Deus é santo e Deus é misericordioso. Deus, tendo nos criado, não abandona a raça humana. Ao contrário, continua a cuidar de nós nos mandando profetas e escrituras. Todas as três fés Abraâmicas afirmam que Deus seja um. Há apenas um Deus, não uma pluralidade de deidades.

Contudo, os muçulmanos não creem que Deus tenha tomado forma humana na pessoa de Jesus. Embora vejam Jesus como um grande profeta de Deus e dediquem a ele alto respeito, os muçulmanos não adoram a Jesus como Deus. Na verdade, eles condenam tal adoração. Adorar a Jesus seria a expressão do maior dos pecados, o de tratar algo humano como Deus. Nem crê a maioria do muçulmanos que Jesus morreu na cruz. Embora homens cruéis intentassem matar Jesus, Deus não permitiu que seu santo profeta morresse a morte vergonhosa de um criminoso. Deus arrebatou a Jesus e um anjo ou a aparição de outra pessoa, possivelmente Judas, tomou o lugar de Jesus na cruz. Certamente, então, Jesus não ressuscitou dos mortos.

Muçulmanos e cristãos mantém o mesmo entendimento sobre Deus? Em parte, mas apenas em parte. Juntos, celebramos as misericórdias de Deus. Diferentemente do budismo e confucianismo, por exemplo, as fés Abraâmicas afirmam a misericórdia de Deus expressa através dos dons da natureza, comunidade humana e sabedoria escriturística, bem como orientação ética e geral. Ainda que tal misericórdia seja apenas uma pálida sombra da tremenda misericórdia que impulsionou Jesus à Terra e rumo à cruz. A esta misericórdia radical chamamos graça. Se a encarnação e morte de Jesus forem verdadeiramente a essencial expressão da nuteza de Deus, então os entendimentos de muçulmanos e cristãos são realmente muito diferentes.

E sobre a terminologia, especificamente sobre o uso da palavra Alá para referir-se a Deus e pai de Jesus? Historicamente, e até os dias de hoje, a palavra Alá tem sido usada em Bíblias em todo o mundo muçulmano, desde as Bíblias árabes até as Bíblias indonésias. Nestas, o Gênesis começa, "No princípio, Alá criou os céus e a terra." Neste exato momento, cristãos malaios - católicos e todos os tipos de protestantes - estão lutando pelo direito ao uso da palavra Alá. O governo exige que eles usem a palavra Tuhan, que significa "Senhor" ou "Mestre". Mas Tuhan não tem a conotação de criador do cosmo. É pequena demais.

Então, muçulmanos e cristãos adoram ao mesmo Deus? Esta está longe de ser a pergunta correta. Seria mais apropriado perguntar onde podemos construir pontes com os muçulmanos através de compreensões comuns (o que presumo tenha sido a tentativa da docente de Wheaton , de boa fé , a despeito da infelicidade de suas palavras) - e onde podemos articular claramente as diferenças, a saber, o que a encarnação, morte e ressurreição de Jesus nos revelam sobre a natureza de Deus.

*Miram Adeney é Professora Associada de Estudos Cristãos Mundiais na Seattle Pacific University e autora de Kingdom without Borders: The Untold Story of Global Christianity (Reino sem fronteiras: a história não contada do cristianismo global).

Tradução: Fabio Martelozzo (fabiomartelozzo@gmail.com)


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