Teologia
no Plural
é um grupo de pesquisa liderado pelo professor e pastor metodista
Claudio de Oliveira Ribeiro, do Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Religião, da Universidade Metodista de São Paulo. Como
o nome do grupo sugere, o pluralismo religioso é o coração do
trabalho. Com ele busca-se uma interpretação teológica do
pluralismo e outras reflexões que valorizem a pluralidade, a
alteridade ecumênica e a vivência desafiadora nas fronteiras da
vida.
Para
conhecer melhor este trabalho acadêmico vejam o texto: "O
coração de Teologia
no Plural: a
interpretação teológica do pluralismo religioso",
disponível
em:
https://www.dropbox.com/home?preview=Teologia+no+Plural-principais+pesquisas.pdf
Há
também alguns livros do autor que traduzem os temas pesquisados:
A
Teologia das Religiões em Foco: um
guia para visionários. São Paulo: Paulinas, 2012 [com Daniel Santos
Souza].
Síntese
didática dos principais autores e temas em torno da teologia das
religiões, em suas variadas perspectivas teóricas, tanto no campo
protestante como no católico-romano. Trata da visão ecumênica
apresentando trajetórias de vida, experiência de diálogo intra e
interreligioso, conceitos relativos ao pluralismo religioso e textos
de autores/as com vivência e procedência de distintos continentes e
inserções acadêmicas e pastorais.
Vídeo de
divulgação:
O
Rosto Ecumênico de Deus. São
Paulo: Fonte Editorial, 2013 [em conjunto com Magali Cunha].
Análise
das perspectivas ecumênicas, tanto em nível intra-cristão quanto
na dimensão inter-religiosa, em especial as experiências que se
formaram em torno do Conselho Mundial de Igreja, com destaque para
aspectos históricos, teológico e prático-pastorais. O prefácio é
de Julio de Santa Ana.
Vídeo
de divulgação https://www.youtube.com/watch?v=2NjNRcgI9W8
Pluralismo
e Libertação. São
Paulo: Paulinas, 2014.
Aborda
o tema do pluralismo religioso, tanto no tocante à descrição do
quadro de diferença religiosa no Brasil e suas causas, quanto no que
diz respeito a uma teologia ecumênica das religiões. Trata dos
desafios advindos das questões cristológica e missiológica e de
uma teologia pública. O prefácio é de José Maria Vigil.
Religião,
Democracia e Direitos Humanos: presença
pública inter-religiosa no fortalecimento da democracia e na defesa
dos direitos humanos no Brasil. São Paulo: Reflexão, 2016.
A
tônica do livro é que toda e qualquer ação ou reflexão sobre
democracia e/ou direitos humanos requer análises mais consistentes e
posicionamentos mais nítidos acerca das questões que lhes são mais
diretamente relacionadas, como o combate aos racismos, ao sexismo e
ao homofobismo e a crítica ao sistema capitalista como produtor de
desigualdades sociais, violência e pobreza. No caso das religiões
no Brasil, tanto pelas históricas dificuldades no tratamento de tais
questões quanto pela riqueza teológica de vários grupos que
reagiram aos processos dominantes e se colocaram francamente a favor
do aprofundamento da democracia e dos direitos, esse processo
avaliativo, reflexivo e propositivo torna-se cada vez mais
imperativo.
https://ssl5921.websiteseguro.com/editorareflexao1/Site.aspx/Carrinho/532?store=1
Outras
informações veja a página eletrônica do grupo: Teologia
no Plural
O
coração de Teologia
no Plural: a
interpretação teológica do pluralismo religioso.
A
diversidade religiosa no Brasil e em diversas partes do globo tem
gerado novos desafios em diferentes campos do conhecimento,
especialmente no das ciências da religião, da teologia e da
antropologia. De maneira similar, as interfaces entre pluralismo
religioso e questões políticas e econômicas são complexas e
desafiadoras.
Aqui
estamos diante de duas dimensões. A primeira entende o pluralismo
como realidade social marcada pela visibilidade da diversidade
religiosa, ou seja, um fato social identificado pela convivência –
conflitiva, harmoniosa ou de indiferença – de diversas religiões
na sociedade. A segunda é de caráter hermenêutico, como um tipo de
juízo teológico sobre o pluralismo, vendo-o como algo positivo,
como um objetivo a ser alcançado tendo em
vista o processo democrático, ou ainda como um
problema, se, por
exemplo, ele for apenas a
celebração da
diversidade, sem um
reconhecimento de
diferenciais de poder
próprios do sistema capitalista, reforçando assim o
status quo.
Embora, em nossas pesquisas, prevaleça a primeira dimensão,
entendemos que temáticas sociais como a defesa dos direitos humanos
e da democracia, por exemplo, requerem também perspectivas
hermenêuticas sobre o pluralismo, como a segunda dimensão referida
nos indica.
O
fato que chama a nossa atenção é que, não obstante o
fortalecimento institucional e popular de propostas religiosas com
acentos mais verticalistas, em geral conflitivas, fechadas ao
diálogo, marcadas por violência simbólica e de caráter
fundamentalista, o campo religioso tem experimentado também formas
ecumênicas de diálogo entre grupos distintos. Esse segundo conjunto
de experiências é o que nos interessa neste trabalho. Diante desse
quadro ambíguo surgem diferentes perguntas: como tal realidade,
especialmente com as suas contradições, incide no quadro social e
político e vice-versa? Como podem coexistir no mesmo tempo e espaço
social práticas sociorreligiosas fechadas ao diálogo e aquelas que
defendem a pluralidade e a aproximação de grupos religiosos? De que
maneira as formas ecumênicas lidam com as próprias questões e
limitações internas, como, por exemplo, não priorizarem ou não
aprofundarem o diálogo em pontos cruciais da reflexão teológica
como a relação entre religião e economia ou a defesa radical da
democracia para além dos aspectos formais?
A
interface do pluralismo religioso com dimensões da esfera política
constitui uma temática nova no contexto latino-americano que, na
primeira década do século XXI, desafiou os estudos de religião e
tem exigido novos aportes teóricos. As análises anteriores
privilegiavam setores específicos do quadro religioso brasileiro,
especialmente o catolicismo e o pentecostalismo. Nossa perspectiva
teórica
visa ao reforço de uma lógica plural na reflexão em torno da
religião e ao oferecimento de elementos teóricos que contribuam com
as avaliações das consequências desse alargamento metodológico
para o conjunto da sociedade. Tal perspectiva se dá tanto em relação
às percepções teóricas mais abrangentes de análise sociocultural
quanto também aos indicativos de novas práticas culturais e
religiosas que possam ser mais dialógicas e marcadas pela alteridade
e pelo respeito à diversidade, fortalecendo assim os processos de
humanização, de valorização dos direitos humanos e de
aprofundamento da democracia.
Estamos
conscientes dos limites presentes em todos esses discursos, incluindo
os que são construídos nas práticas de defesa dos direitos
humanos. Muitas vezes tais discursos são cooptados pela força
imperial do sistema capitalista e podem conviver com ela em certa
harmonia e assimilação mútua quando limitados aos aspectos de uma
democracia liberal formal. Por isso, assumimos a perspectiva de
alguns autores que defendem a necessidade de se estabelecer uma visão
contra-hegemônica dos direitos humanos.
Consideramos
que os resultados das pesquisas que ora apresentamos poderão incidir
em melhores referenciais teóricos para as análises sociais, no
tocante aos papéis da religião e do pluralismo quanto às práticas
sociais que visem ao fortalecimento democrático e à cidadania. Eles
poderão responder a necessidades advindas da prática de setores que
trabalham com educação religiosa nas esferas públicas e privadas,
confessionais ou não, dos setores da imprensa e da mídia em geral
no trato de situações que emergem do quadro religioso, e das
demandas surgidas em setores governamentais e não governamentais em
torno da formulação de políticas públicas, da prestação de
serviços, assessorias, consultorias e de avaliações do quadro
religioso e do lugar das religiões nas questões sociais e
políticas.
Como
sabemos, os temas relacionados ao pluralismo religioso vêm ganhando
destaque no debate acadêmico atual. Em parte, isso se dá como
resposta à realidade sociocultural na qual encontramos nas últimas
décadas maior visibilidade da diferença religiosa, no Brasil e no
mundo, maior intensidade no debate sobre religião e democracia,
especialmente os temas ligados à laicidade do Estado, mas também a
ambiguidade de termos, ao mesmo tempo, situações conflitivas e
busca de diálogo entre grupos religiosos distintos em diferentes
áreas da vida social. Além disso, também ganha nitidez no Brasil o
número de pessoas que se declaram “sem-religião”, como nos
mostram os últimos censos do IBGE, o que reforça a agenda temática
da laicidade do Estado e questões afins.
Sem
perder de vista os esperados padrões acadêmicos de objetividade,
ainda
que tal meta não seja inteiramente factível,
e de marcos teóricos definidos, nossas reflexões também estiveram
e procuram estar mergulhadas em um contexto de experiências pessoais
tanto em termos da valorização da dimensão ecumênica quanto da
preocupação prática com a defesa dos direitos humanos e da
democracia. A vocação ecumênica me acompanha desde a adolescência;
ela me alcançou na trajetória eclesial na qual vivi as aventuras
espirituais que fizeram florescer, nos anos de 1980, maior
sensibilidade com relação à realidade da vida, especialmente das
pessoas e grupos empobrecidos, e maior abertura ecumênica para
responder aos desafios que a fé cristã nos apresentava.
Daí
vieram os esforços de formação dentro da visão teológica
latino-americana, as iniciativas de uma pastoral sensível aos
“sinais dos tempos”, marcada pelo apelo à solidariedade com os
que sofrem, pela prática da justiça e da paz, pelas lutas contra as
formas de discriminação e pela promoção dos direitos humanos e da
vida como um todo. Foram inúmeras as experiências ao longo dos
anos: inserção em projetos de pastoral popular no contexto das
igrejas metodistas da Baixada Fluminense-RJ; participação e
acompanhamento de atividades de diferentes grupos e organizações
ecumênicas como Centro Ecumênico de Documentação e Informação
(CEDI) – posteriormente Koinonia Presença Ecumênica e Serviço –,
Centro Ecumênico de Serviço à Educação Popular e à
Evangelização (CESEEP), Instituto de Estudos da Religião (ISER),
Pastoral Universitária do Instituto Metodista Bennett, programas
Parceiros na Missão (Inglaterra) e Face
to Face (Canadá),
articulação nacional das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que
possui forte teor ecumênico, tanto no nível intracristão quanto no
inter-religioso, e, mais recentemente, o Programa de Cooperação e
Diálogo Inter-Religioso do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
Somam-se a isso as nossas tarefas docentes e de assessoria a grupos
populares e a outros interessados em “outro mundo possível”,
como nos indicam os fóruns sociais mundiais.
Nossa
pressuposição em todas as reflexões é aquela que aprendemos com o
movimento ecumênico: que o ecumenismo possui uma tríplice dimensão
– a unidade
cristã,
com base no reconhecimento do escândalo histórico das divisões e
na preocupação em construir perspectivas missionárias ecumênicas;
a promoção
da vida, firmada
nos ideais utópicos de uma sociedade justa e solidária e na
compreensão de que podem reger a organização da sociedade
integrando todas as pessoas e grupos de “boa vontade”; e o
diálogo
inter-religioso, na
busca incessante da superação dos conflitos entre as religiões,
pela paz e pela comunhão justa dos povos.
Foi com esse
espírito que organizamos o grupo de pesquisa Teologia
no Plural.
Ele é
certificado
pela Universidade Metodista de São Paulo na plataforma do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), reúne
professores e estudantes de Teologia e de Ciências da Religião e
tem se preocupado com a
importância da lógica plural para o método teológico. Em resumo,
partimos
da identificação de aspectos que, nas últimas décadas, têm
limitado ou facilitado o alargamento do método e consequentemente
oferecido menor ou maior capacidade de formulação de respostas
teológicas consistentes diante da complexidade da realidade social
latino-americana, em especial a diferença cultural nas linguagens da
religião no Brasil e o pluralismo religioso.
O
grupo está integrado à área "Linguagens da religião",
dentro da linha de pesquisa "Teologia das religiões e cultura"
do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, da
Universidade e nela responde ao eixo temático "Conhecimento
Social, Mediações Socioculturais e Inclusão para a Cidadania".
Ele está articulado com o Grupo de Trabalho "Espiritualidades
contemporâneas,
pluralidade religiosa e diálogo", da Associação Nacional de
Programas de Pós-Graduação em Teologia e Ciências da Religião
(Anptecre), e da Sociedade de Teologia e Estudos de Religião
(Soter), coordenado pelo Prof. Dr. Roberlei Panasiewicz
(PUC Minas), Gilbraz Aragão (Unicap-PE) e por mim (Umesp).
Nas análises a
seguir apresentamos
resultados de projetos de pesquisa que
aglutinam temas relacionados ao pluralismo religioso, e por isso,
constituem o núcleo central do grupo Teologia
no Plural. Neles
encontramos a análise de aspectos que servem de base para uma
sistematização das principais implicações teóricas e práticas
da formação de uma lógica plural na reflexão teológica e nas
ciências da religião, seguidas de uma avaliação das implicações
para os processos sociais. Tais análises redundaram na indicação
de dimensões básicas e em novos aportes teóricos para uma teologia
ecumênica das religiões.
Dois
projetos de pesquisa por mim desenvolvidos têm sido as bases de
referência e de articulação do grupo, em função da ênfase na
interpretação teológica do quadro de pluralismo religioso. Os
resultados estão divulgados em uma variada produção, que passemos
a apresentar:
1.
Projeto de pesquisa: "Pluralismo
e Religiões: novas interpelações entre teologia e cultura, tendo
em vista uma teologia ecumênica das religiões" (2013-2015)
O
projeto, diante
do quadro atual de mudanças sociais e religiosas,
discutiu
a importância de um equacionamento adequado para as relações entre
teologia e cultura e o valor dos estudos
culturais para
a reflexão teológica na atualidade com vistas a uma teologia
ecumênica das religiões. Para isso, foram analisados aspectos, que
serão oportunamente descritos, que servem de base para uma
sistematização das principais implicações teóricas e práticas
da formação de uma lógica plural na reflexão teológica e nas
ciências da religião, seguidas de uma avaliação das implicações
para os processos sociais. Da mesma forma, procurou-se indicar
aspectos básicos e novos aportes teóricos para uma teologia
ecumênica das religiões.
A
pesquisa foi motivada pelo destaque que a temática do pluralismo
religioso tem ocupado na sociedade, tanto em termos nacionais como no
mundo todo. Além disso, o pluralismo religioso tem tido também
destaque no contexto acadêmico, em diferentes áreas do
conhecimento. Do ponto de visto prático, a necessidade da pesquisa
se tornou mais evidente, entre outros fatores, pelos debates
suscitados na disciplina "Hermenêutica do Pluralismo Religioso"
(na versão ministrada no PPG-CR/UMESP no segundo semestre de 2011).
Dela se originou a produção de um livro didático que apresenta uma
introdução à teologia das religiões:
A
Teologia das Religiões em Foco: um
guia para visionários. São Paulo: Paulinas, 2012, de Claudio
Ribeiro e Daniel Santos Souza. A obra é uma síntese
didática dos principais autores e temas em torno da teologia das
religiões, em suas variadas perspectivas teóricas, tanto no campo
protestante como no católico-romano. Trata da visão ecumênica
apresentando trajetórias de vida, experiência de diálogo intra e
interreligioso, conceitos relativos ao pluralismo religioso e
fragmentos de textos de autores/as com vivência e procedência de
distintos continentes e inserções acadêmicas e pastorais.
A repercussão da
obra nos levou a aprofundar a temática, sistematizando as questões
levantadas a partir de eixos conceituais de análise [e não mais por
autores como é a proposta do referido livro]. No mesmo ano, foram
produzidos nessa direção quatro artigos publicados em revistas
acadêmicas bem qualificadas. Eles foram desenvolvidos
concomitantemente à elaboração do projeto que ora descrevemos os
resultados e se constituíram em base para ele. Na sequência,
encontramos a descrição dos textos, em resumo, para que tenhamos
uma visão geral dessa fase da pesquisa.
Em "Pluralismo
e religiões: bases ecumênicas para uma teologia das religiões"
(Estudos
de Religião, v.
26, n. 42, p. 209-237, 2012) são apresentadas
as bases de uma teologia ecumênica das religiões, considerando os
desafios do tempo presente, em especial o pluralismo religioso e
cultural, e tendo em vista a construção de uma lógica plural para
o método teológico. Apresenta, também, sínteses da visão de
autores que têm dado uma contribuição relevante para o tema, como
Paul Knitter, Andrés Torres Queiruga, Roger Haight e John Hick, no
campo europeu e estadunidense, e José Maria Vigil, Marcelo Barros,
Diego Irarrazaval e Faustino Teixeira, no campo latino-americano.
Outro texto em
destaque é "Ecumenismo,
pluralismo e religiões: a busca de novos referenciais teóricos".
Revista
Eclesiástica Brasileira (REB), v.
72, n. 287, p. 651-663, 2012. Como indicativo da necessidade de novos
referenciais teóricos para as ciências da religião está uma
compreensão mais adequada da diversificação cada vez mais visível
do quadro religioso e o crescente anseio da parte de diferentes
grupos pelos diálogos interreligiosos, não obstante ao simultâneo
fortalecimento das propostas de cunho fundamentalista. Este panorama
tem implementado novas perspectivas hermenêuticas, teológicas ou
não, mas ainda possui no horizonte a maior parte de suas questões.
Estas também necessitam ser formuladas de maneira mais adequada e
debatidas com profundidade.
"Religiões
e Paz: perspectivas teológicas para uma aproximação ecumênica das
religiões" (Horizonte,
v. 10, n. 27, p. 917-936, 2012) trata
das possibilidades de uma teologia ecumênica das religiões tendo
como eixo articulador a preocupação pela paz, pela justiça e pela
integridade da criação. O objetivo foi analisar temas de destaque
para o cenário das análises sociais e teológicas como: a) O valor
do humano e da ética social para o diálogo interreligioso, b) As
possibilidades de uma unidade aberta, convidativa e integradora no
âmbito das religiões; c) A importância pública das religiões; d)
As religiões como códigos de comunicação; e) O poder do império
e o poder do diálogo das religiões. Para isso, recorre-se às
contribuições de Hans Küng, Jürgen Moltmann, Julio de Santa Ana,
Xavier Pikaza e José Comblin respectivamente.
Em "A teologia
diante das culturas afro-indígenas: interpelações ao método
teológico". (Numen,
v. 15, n.2, p. 515-535, 2012) há uma reflexão
sobre questões que interpelam o método teológico, suscitadas pela
realidade das culturas afro-indígenas, especialmente a relação
entre subjetividade e racionalidade. As realidades das culturas
religiosas afro-indígenas que marcam o contexto latino-americano, se
consideradas pela reflexão teológica, em postura de diálogo
crítico e interpelador, possibilitam uma revisão do método
teológico em diferentes aspectos. Dois deles são destacados no
texto: O primeiro é o alargamento da visão sobre a realidade, sobre
o ser humano e sobre o cosmo baseado na primazia da vivência
comunitária em detrimento das lógicas doutrinais e formais, e
também na maior ênfase na dimensão do despojamento e da autodoação
em contraposição às formas cristológicas sacrificialistas;
descartadas, no entanto, as muitas idealizações das referidas
culturas feitas por diferentes círculos. O segundo é que as
dimensões de subjetividade e as experiências lúdicas e rituais dos
grupos religiosos afro-indígenas, uma vez vistas como interpelação
à teologia cristã, redimensionaria o caráter fortemente racional
nela presente e geraria novas sínteses entre fé e ações práticas.
Estas foram, em
síntese, as bases teóricas inicias da pesquisa. Os resultados
finais dela estão sistematizados e publicados em artigos científicos
de revistas acadêmicas igualmente bem qualificadas. A síntese de
cada um dos
sete artigos
abaixo refletem os resultados e a metodologia aplicada para o alcance
dos objetivos propostos.
O primeiro é "Um
olhar sobre o atual cenário religioso brasileiro: possibilidade e
limites para o pluralismo". Estudos
de Religião,
v. 27, n. 2, p.
53-71(2013). A
pesquisa
procurou
identificar os aspectos do quadro religioso brasileiro atual que
consideramos os mais importantes para uma compreensão das
possibilidades e dos limites do pluralismo religioso. Entre tais
aspectos estão: (i) a relação da matriz religiosa e cultural
brasileira com as marcas do pluralismo religioso atual, (ii) os
processos de privatização das experiências religiosas,
especialmente como o fato econômico intervêm nas experiências
religiosas, (iii) os processos de secularização e as novas formas
religiosas, incluindo as formas de trânsito religioso e o lugar das
mídias no processo religioso, e (iv) a relação entre as expressões
de fundamentalismo e as de pluralismo e como ela interfere em
processos de reforço à democracia e às experiência religiosas de
cunho libertador. Para
efetuar tais análises, recorremos às concepções que
consideramos fundamentais para uma hermenêutica do quadro de
pluralismo religioso, a saber: (i) a noção de
alteridade e
a sua implicação para o estudo científico da religião (cf. Martin
Buber e Emmanuel Lévinas), e (iii) os processos de
interculturalidade
facilitados pela maior velocidade das comunicações, pelo desapego
às tradições e pela mobilidade rural-urbana (cf. Raul
Fornet-Betancourt), e (iii) a concepção de entre-lugar,
como trabalho fronteiriço da cultura, que requer um encontro com “o
novo” que não seja mera reprodução ou continuidade de passado e
presente (cf. Homi Bhabha).
Em
"Fé e pluralismo religioso: reflexão a partir da teologia de
Paul Tillich" (Correlatio,
v. 12, n. 23, 2013, p. 29-41) a reflexão gira em torno da
confluência entre os pensamentos de Paul Tillich e os da teologia
latino-americana no tocante à perspectiva pluralista de compreensão
da fé. O pressuposto é que a vocação ecumênica, ao marcar as
reflexões teológicas e pastorais, indica que o caráter de
apologia, de sectarismo ou de exclusivismo são ou devem ser
evitados. Deus é sempre maior do que qualquer compreensão ou
realidade humana. Age livremente, em especial na ação salvífica.
Nesse sentido, não é preciso estar excessivamente preocupado em
descobrir quem é ou será salvo (para utilizar o imaginário comum
dos cristãos); mas quem é e o que representa Jesus Cristo para a
comunidade cristã. Essa perspectiva de Tillich o remete à busca de
um novo paradigma para a teologia das religiões. Trata-se da
superação dos seguintes modelos: o que considera Jesus Cristo e a
Igreja como caminho necessário para a salvação; o que considera
Jesus Cristo como caminho de salvação para todos, ainda que
implicitamente; e aquele no qual Jesus é o caminho para os cristãos,
enquanto para os outros o caminho é a sua própria tradição. A
perspectiva pluralista, que advogamos, possui como característica
básica a noção de que cada religião tem a sua proposta salvífica
e de fé que devem ser aceitas, respeitadas e aprimoradas a partir de
um diálogo e aproximação mútuas. Assim, a fé cristã, por
exemplo, necessita ser reinterpretada a partir do confronto dialógico
e criativo com as demais fés. O mesmo deve se dar com toda e
qualquer tradição religiosa.
No
texto "A
teologia latino-americana diante do pluralismo religioso"
(Horizonte
v.
11, n. 32, p. 1436-1460, 2013) encontramos uma análise
dos principais
desafios do pluralismo religioso para o contexto teológico
latino-americano. Como resultado de nossa pesquisa, formulamos três
eixos norteadores da temática: I. A importância pública das
religiões para os processos de promoção da paz e da justiça,
associada ao
valor
da mística e da alteridade na formação de espiritualidades
ecumênicas
e como elas incidirão nos processos religiosos e sociais,
favorecendo perspectivas libertadoras.
II. A
necessidade de mudança
de lugar teológico a partir da realidade das culturas religiosas
afro-indígenas. III. A contribuição da teologia feminista da
libertação para o debate do pluralismo religioso.
Metodologicamente, reunimos a produção teológica latino-americana
em torno das questões do pluralismo religioso, identificamos os
aspectos principais, especialmente os que interpelam mais diretamente
o método teológico e sistematizamos os pontos que consideramos mais
desafiadores em torno dos três eixos já referidos.
Uma versão similar, mas com conteúdos distintos, foi publicada em
"Towards an ecumenical theology of religions throught a latin
american lens". Exchange
44
(2015), p. 83-102.
A
questão cristológica é discutida em "Pluralismo
e religiões: a questão cristológica em foco". Horizonte,
v. 11, n. 29, p. 353-380, 2013. O texto apresenta uma perspectiva
cristológica plural na relação interreligiosa, a partir da visão
de que cada expressão religiosa tem a sua proposta salvífica e de
fé que devem ser aceitas, respeitadas, valorizadas e aprimoradas a
partir de um diálogo e aproximação mútuas. Tal perspectiva não
anula nem diminui o valor das identidades religiosas - no caso da fé
cristã, a importância de Cristo -, mas leva-as a
um
aprofundamento, amadurecimento e reinterpretação, movidos pelo
diálogo e pela confrontação justa, amável e corresponsável.
Consideramos que tal visão, em certo sentido, supera outros modelos
como aquele que considera Jesus Cristo e a Igreja como caminho
exclusivo de salvação; o que considera Jesus Cristo como caminho de
salvação para todos, ainda que implicitamente, o que se denominou
inclusivismo; e a perspectiva relativista na qual Jesus é o caminho
para os cristãos, enquanto para os outros o caminho é a sua própria
tradição, sem maiores esforços de autocríticas, revisões e mútua
interpelação. Na visão pluralista, os elementos chaves da vivência
religiosa e humana em geral são alteridade, respeito à diferença e
o diálogo e cooperação prática e ética em torno da busca da
justiça, da paz e do bem-comum. A aproximação e o diálogo entre
grupos de distintas expressões religiosas cooperam para que elas
possam construir ou reconstruir suas identidades e princípios
fundantes.
Em
"Missão
Cristã e compromisso ecumênico" (Caminhando,
v.
18, n. 2, jul/dez 2013, p. 129-141) relacionamos
duas dimensões fundamentais da fé cristã que é a missão e a
perspectiva ecumênica. As bases metodológicas de análise foram
avaliações de contribuições
de
diferentes perspectivas teológicas para
o tema da missão diante do pluralismo religioso, como as de Michael
Amaladoss e de Christine
Lienemann-Perrin e a dos
teólogos metodistas Wesley Ariarajah e Inderjit Bhogal. Como
resultado, indicamos perspectivas fundadas no
valor do humano e da ética social para o diálogo interreligioso e
para a prática missionária, as possibilidades de uma unidade
aberta, convidativa e integradora no âmbito das religiões e como a
aproximação e diálogo influem na defesa dos direitos humanos e
como eles redimensionam a missão
cristã.
Nossa intenção foi realçar as possibilidades de uma teologia da
missão, de inspiração dialogal e ecumênica, tendo como eixo
articulador a preocupação pela paz, pela justiça e pela
integridade da criação.
Um
sexto texto discute aspectos da espiritualidade a partir de uma chave
inter-religiosa: "Teologia
e espiritualidade ecumênica: implicações para o método teológico
a partir do diálogo interreligioso". Estudos
Teológicos, v.
53, n.1, p. 57-73, jan/jun 2013. Diante do pluralismo religioso
faz-se necessária para a teologia das religiões uma atenção
especial à articulação entre a capacidade de diálogo dos grupos
religiosos e os desafios em torno da defesa dos direitos humanos e da
promoção da paz, pressupondo que a espiritualidade ecumênica
requer visão dialógica, alteridade, profunda sensibilidade com as
questões que afetam a vida humana e inclinação para os processos
de humanização, favorecendo assim perspectivas utópicas,
democráticas e doadoras de sentido na sociedade.
Em
"Bases
teológicas cristãs para o discernimento do pluralismo religioso"
(Pistis
& Praxis, v.
6, n. 1, 2014, p. 209-228) a reflexão reside em torno de
possibilidades de discernimento bíblico-teológico das realidades
sociais marcadas pelo pluralismo religioso. Metodologicamente, três
passos foram dados: a identificação da noção bíblica de
alteridade, a identificação da abertura ao diálogo e a prática
interativa que a visão trinitária da fé cristã oferece, e um
levantamento das questões em torno do desafio da visão cristológica
diante do quadro de valorização do pluralismo religioso.
Os
principais resultados da pesquisa encontrados nos referidos textos
estão reorganizados em duas obras:
Pluralismo e
Libertação (São
Paulo: Paulinas, 2014), que aborda o tema do pluralismo religioso,
tanto no tocante à descrição do quadro de diferença religiosa no
Brasil e suas causas, quanto no que diz respeito a uma teologia
ecumênica das religiões. Trata dos desafios advindos das questões
cristológica e missiológica e de uma teologia pública que realce
as dimensões do pluralismo e da libertação.
E
O
Rosto Ecumênico de Deus. (São
Paulo: Fonte Editorial, 2013, escrita em conjunto com Magali Cunha),
que apresenta uma análise das perspectivas ecumênicas, tanto em
nível intra-cristão quanto na dimensão inter-religiosa, em
especial as experiências que se formaram em torno do Conselho
Mundial de Igreja, com destaque para aspectos históricos, teológico
e prático-pastorais.
2.
Projeto de pesquisa: "Presença pública inter-religiosa,
democracia e direitos humanos no Brasil"
(2016-2017).
A
pesquisa, ainda em curso, analisa questões que emergem do quadro de
pluralismo religioso e que se relacionam com a temática dos direitos
humanos e com processos de aprofundamento da democracia no Brasil.
Ela objetiva indicar bases conceituais para análise dos espaços
fronteiriços entre a presença pública das religiões, em especial
os diálogos inter-religiosos no Brasil, e os esforços de
aprofundamento da democracia e de articulação contra-hegemônica na
defesa dos direitos humanos. Metodologicamente, tem sido priorizado
em um primeiro momento um balanço de questões que demarcam o
caminho da análise ecumênica das religiões, pois elas geram novas
perspectivas teóricas em torno dos temas tratados.
Analisamos
as relações entre perspectiva ecumênica, direitos humanos e
democracia a partir de experiências inter-religiosas no Brasil, e
temos mostrado como a emancipação humana vivenciada na
interculturalidade das experiências religiosas se articula
frontalmente com as questões teológicas em torno da democracia.
Entre os resultados da pesquisa, esperamos apresentar bases teóricas
que
mostram ser necessária para as análises sociais uma atenção
especial à articulação entre a perspectiva dialógica dos grupos
religiosos e os desafios em torno da defesa dos direitos humanos, da
democracia e do reforço a lógicas inclusivas. Também a indicação
de como as práticas e as formas de espiritualidade ecumênica que
emergem do pluralismo religioso - cujos valores residem na dimensão
de alteridade - incidem nos processos culturais e sociais, reforçando
visões libertadoras e democráticas para setores representativos da
sociedade.
O objetivo geral da
pesquisa é investigar
as relações entre perspectiva ecumênica, direitos humanos e
democracia a partir de experiências inter-religiosas no Brasil,
procurando identificar os impactos de tais experiências no
aprofundamento da democracia e da capacidade contra-hegemônica na
defesa dos direitos humanos. Para isso, temos os seguintes objetivos
específicos:
-
Identificar as principais questões que demarcam o caminho da análise
científica das religiões, em especial no campo religioso
brasileiro, a partir de referenciais teóricos que priorizam a ênfase
nas fronteiras.
-
Analisar aspectos das tendências atuais do quadro religioso, tanto
em relação aos processos de privatização das experiências
religiosas,
que não favorecem a relação entre experiência religiosa e a luta
pelos direitos humanos, como os processos de presença pública das
religiões, em suas versões que são usualmente conhecidas como
"conservadoras" e "progressistas", em especial no
tocante aos processos democráticos.
-
Indicar
bases conceituais para análise do objeto da pesquisa que se
constitui nos processos fronteiriços entre a presença pública das
religiões em especial os diálogos inter-religiosos.
-
Investigar
as relações entre perspectiva ecumênica, direitos humanos e
democracia a partir de experiências religiosas e inter-religiosas no
Brasil e mostrar como a emancipação humana vivenciada nas
experiências religiosas se articula frontalmente com as questões
teológicas em torno da democracia.
Até
o momento dois textos apresentam resultados parciais do trabalho
feito:
"Pluralismo
religioso, direitos humanos e democracia" (Horizonte,
v.
13, p. 1805-1825, 2015) cuja reflexão gira
em torno de questões que emergem do quadro de pluralismo religioso e
que se relacionam com a temática da defesa dos direitos humanos e
com os processos de aprofundamento da democracia. Metodologicamente,
foi priorizado em um primeiro momento um balanço de questões que
demarcam o caminho para uma teologia ecumênica das religiões, pois
elas geram novas perspectivas teológicas em torno dos temas
tratados. Em seguida, destacamos (i) alguns aspectos da tendência
atual dos processos de privatização das experiências religiosas,
com a premissa que tais
aspectos não favorecem a relação religião e direitos humanos,
(ii) analisamos as relações entre teologia ecumênica e direitos
humanos, privilegiando o diálogo com a noção de globalização
contra-hegemônica, de Boaventura de Souza Santos e (iii) mostramos
como a emancipação humana se articula frontalmente com as questões
teológicas em torno da democracia.
Entre os resultados da pesquisa, destacamos bases teóricas como o
conceito de direitos humanos contra-hegemônicos, visão dialógica e
alteridade ecumênica.
O
segundo é o livro
Religião,
Democracia e Direitos Humanos: presença
pública inter-religiosa no fortalecimento da democracia e na defesa
dos direitos humanos no Brasil. São Paulo: Reflexão, 2016. A tônica
do livro é que toda e qualquer
ação ou reflexão sobre democracia e/ou direitos humanos requer
análises mais consistentes e posicionamentos mais nítidos acerca
das questões que lhes são mais diretamente relacionadas, como o
combate aos racismos, ao sexismo e ao homofobismo e a crítica ao
sistema capitalista como produtor de desigualdades sociais, violência
e pobreza. No caso das religiões no Brasil, tanto pelas históricas
dificuldades no tratamento de tais questões quanto pela riqueza
teológica de vários grupos que reagiram aos processos dominantes e
se colocaram francamente a favor do aprofundamento da democracia e
dos direitos, esse processo avaliativo, reflexivo e propositivo
torna-se cada vez mais imperativo.
Desejamos
que as reflexões apresentadas estimulem novas ideias, práticas e
caminhos para uma compreensão mais adequada do pluralismo religioso
e possam gerar novos debates e posicionamentos. (Claudio de Oliveira Ribeiro)
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